domingo, 23 de setembro de 2012

A culpa é das estrelas (Resenha)

"Você está tão ocupada sendo você mesma que não faz ideia de quão absolutamente sem igual você é.” Augustus para Hazel


“A culpa é das estrelas”  - John Green - é o livro divertido mais mórbido que eu já li, o autor escreve como uma adolescente – em certas partes, parece que ele é mesmo uma garota de 17 anos! Mas esse turbilhão de gostos, nos prende até a última página. Não é um romancinho água com açúcar meloso (nada contra quem gosta). Mas o livro também é uma lição sobre amor, dor e viver.

Hazel: Dezesseis anos. Olhos verdes e pele clara. Leitora voraz, tem uma sensibilidade bastante própria, ideias afiadas e câncer de tireoide com metástase nos pulmões. Gosta de All Stars Chuck Taylors, tem um livro de cabeceira e sabe o que Magritte quis dizer com “Isso não é um cachimbo”. Está bem, viva o Falanxifor!
Augustus: Dezessete anos, alto, magro. Sorriso cafajeste, andar idem. É bonito e sabe muito bem disso. Gosta de música, livros e games. Grande adepto das ressonâncias metafóricas e da direção segura, na medida do possível. Seu osteossarcoma está em remissão há mais de um ano. E ele não tem medo de ir atrás da felicidade.

Antes de qualquer coisa, em um livro onde os personagens já estão marcados pelo câncer, a morte certa, inevitável, e que está cada vez mais perto… não poderíamos sequer imaginar que dentro desse curto período de vida, pessoas assim tenham uma vida de verdade, porque né… seu próprio corpo está as matando e isso é muito, muito doloroso (depoimento de alguém que já teve cânceres na família e sobreviveu a um tumor – benígno ufa).

A morbidez para aí… mesmo limitados os personagens tentam viver sua vida da melhor forma possível, se apaixonam, brincam, encontram amigos (também com câncer, porque se acaba fazendo amizade com pessoas nos hospitais que se frequenta sempre) – fazem o que está ao seu alcance para sua existência ter sentido. O que deveria ser um livro totalmente triste e fúnebre, nos presenteia com humanidade – eu não chorei em nenhuma parte, porque não sou de chorar, mas amigas minhas que leram choraram litros – veja você: um casal (ambos sobreviventes do câncer) tentam juntos apoiar e amparar um ao outro (porque só alguém que também está morrendo, pode entender quem também está) e experimentam a mais normal “paixão adolescente” que é limitada e assombrada pelo tic-tac do reloginho do câncer, é de chorar mesmo.

Enredo: Hazel é uma paciente terminal. Ainda que, por um milagre da medicina, seu tumor tenha encolhido bastante — o que lhe dá a promessa de viver mais alguns anos —, o último capítulo de sua história foi escrito no momento do diagnóstico. Mas em todo bom enredo há uma reviravolta, e a de Hazel se chama Augustus Waters, um garoto bonito que certo dia aparece no Grupo de Apoio a Crianças com Câncer. Juntos, os dois vão preencher o pequeno infinito das páginas em branco de suas vidas.
Por condescendência, Augustus Waters conhece Hazel Grace no grupo de apoio. Ele a acha parecida com sua ex-namorada (que morreu com com.. você sabe o que). E desde então tem um divertido enlace, onde se tornam amigos e até de certo modo confidentes, se apaixonam e se sacrificam…

Hazel sobrevive por conta de um remédio (infelizmente fictício) que estende sua vida um pouco a mais do que o comandando por seu diagnóstico. Isso a torna “uma sobrevivente temporária do câncer” que necessita integralmente de cilindros de oxigênio e dorme “plugada” a um “dragão” [máquina] que a ajuda a respirar.
“Okay.” é tipo o “Para Sempre/Te Amo” dos dois no livro.
Quando eu disse que “A culpa é das estrelas” não era água com açúcar, isso se referia substancialmente na riqueza dos personagens, princialmente Hazel é com um humor afiado e sarcástico, e encara sua situação/estado da maneira mais racional possível para uma adolescente de 17 anos, mas isso (como ela gostava de dizer) é mais um “efeito colateral do câncer” ou “efeito colateral de se estar morrendo”.
Augustus também é cativante, carrega o mesmo tipo de humor de Hazel e é um galanteador (tanto que se apaixonam rapidamente e tudo mais), ele carrega um medo – quase que infantil, mais convincente – de ser esquecido e vive dando a vida pelos outros (no vídeo-game) : – eles lembrarão de quem os salvou, Hazel, de quem se sacrificou pela crianças da creche nessa guerra (falas assim são típicas dele). Ou quando ele finge que fuma, só para ter o prazer (intelectual) de usar a morte....


Logo depois de se conhecerem, acabam por ler o livro preferido um do outro. E o peculiar livro preferido de Hazel Uma aflição imperial (fala de uma menina que tem…adivinha? Câncer Terminal). O livro acaba abruptamente  sem esclarecer o que ocorre com os personagens, o que leva – a ambos – se corresponderem com o autor deste, que se mudou para Amsterdã, um bêbado que aparentemente tem aversão a conterrâneos Americanos.

Discussões sobre esse livro e outros, sobre música, estar doente, lidar com a família, tudo é exposto por John Green de forma encantadora, sendo Hazel uma narradora inteligente e carismática, que mostra a dureza de se ver presa a um cilindro de oxigênio e a dedicação ilimitada dos pais que, espera, consigam ter uma vida normal depois de sua morte. - Taize Odelli (Jornalista)


O mais fascinante - e que dá credibilidade a narrativa – é como o autor  CONSEGUE ESCREVER DE UMA FORMA ADOLESCENTE TÃO ADOLESCENTEMENTE. Falei “fascinante”, mas me intrigou, até me irritou um pouco, algumas coisas formam realmente clichês, mas eu perdoo porque existem adolescentes clichês também. O que de certa forma nos faz lembrar, que estamos lendo – pelas palavras de Hazel (17) – sua história.
“– Eu sou tipo. Tipo. Sou tipo uma granada, mãe. Eu sou uma granada e, em algum momento, vou explodir, e gostaria de diminuir a quantidade de vítimas, tá?”

O livro nos leva a refletir como é penoso e doloroso conviver com alguém que está para morrer, mesmo todos nós estando condenados a mesma sentença – não tão iminentemente, claro. Mostrando as aflições dos pais de Hazel, dos seus amigos e de Augustos.

“Estou apaixonado por você e não quero me negar o simples prazer de compartilhar algo verdadeiro. Estou apaixonado por você, e sei que amor é apenas um grito no vácuo, e que o esquecimento é inevitável, e que estamos todos condenados ao fim, e que haverá um dia em que tudo o que fizemos voltará ao pó, e sei que o sol vai engolir a única Terra que podemos chamar de nossa, e eu estou apaixonado por você.”


A lacuna – de não poder viver uma vida “completa” – assombra suas vidas e todo momento tem de ser aproveitado ao máximo, os dias saudáveis, a companhia de quem se ama, etc. Mas nada preenche esse vazio, nada… E tudo continua incompleto, porque tudo está assombrado pela doença, pela morte inevitável que pode chegar a qualquer momento, nunca se sabe quando será “o seu último dia saudável” ou “seu último dia feliz”, porque depois deste você se perde e derrete, vaporiza-se no tempo. E a morte chega, chega quando se menos espera e “the end” nossos personagens tão cativantes.

 “Se você fosse lá, e espero que um dia consiga ir, veria várias pinturas de pessoas mortas. Veria Jesus na cruz, um cara sendo esfaqueado no pescoço, pessoas morrendo no mar, outras numa batalha, e um desfile de mártires. Mas nem. Uma. Criança. Com. Câncer. Sequer. Ninguém batendo as botas por causa da praga, nem da varíola, nem da febre amarela, nem nada, porque não existe glória na doença. Não há propósito nela. Não há honra em se morrer de.”

John Green, fez a A culpa é das estrelas um livro marcante pelo timbre do inevitável, temperado com uma comédia angustiante – como podem rir e amar, se vão morrer? – esse é o “tapa na nossa cara” desse livro todos nós vamos morrer, todos, com ou sem doença. É essa a lição deste livro, a morte não poupa ninguém, e quem dera se todos nós pudéssemos todos lidar com ela como Hazel! Tentando viver ao máximo e sorrir ao máximo, aproveitar e viver simplesmente viver ignorando nossas limitações e buscando felicidade.

Você vai rir, vai chorar e ainda vai querer mais.” - Markus Zusak (Autor do livro “A Menina que Roubava Livros”)

Enfim, é um livro que vale a pena ser lido – uma comédia (romântica, talvez até um ultrarromantismo moderno: porque todos morrem no final ou pode ser também um Cancer Book, mas não acho que seja o caso) fúnebre e paralisante - Yes, quando você lê, invisivelmente se põe na mesma situação de Hazel, ninguém está imune. O livro torna-se uma experiência de auto-conhecimento também. Fiquem com minha parte favorita:

“Tudo é frágil e efêmero, caro leitor, mas com este balanço seu filho conhecerá os altos e baixos da vida devagar e com segurança, e também poderá aprender a lição mais crucial de todas: não importa quão forte seja o impulso, não importa o quão alto se chegue, não será possível dar uma volta completa.”
Qualquer dúvida,  o site Oficial do livro é bem útil, lá tem perguntas respondidas diretamente pelo autor (e você pode perguntar também!) como: Qual significado do título A culpa é das estrelas? ou Você não fica nem um pouquinho tentado a escrever o Uma aflição imperial? ou Você mencionou no post de um blog que o conceito da Hazel sobre os infinitos estava errado. Daria para explicar melhor isso?...

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Quando John Green disse em “A culpa é das Estrelas” que “Alguns infinitos são maiores que outros.”, eu acho que ele estava falando disso: que alguns momentos passam infinitamente por nós sabe? Quando aquele segundo dura uma eternidade, é foi isso. E também quando aquelas três dias passam voando? Talvez precisemos de alguém que abra nossos olhos para os nossos infinitos, e nossas possibilidades, a vida hoje é um vazio do pragmaticismo,de prazer imediato, e aquelas coisas mais simples? Ok, parei com as reflexões…

É um livro cheio de frases impactantes. O John Green é mestre nisso. Em escrever livros cheio de frases que logo viram tatuagens, camisetas, posters, arte de tumblr, etc. - Dayse D. (Blogueira)

A sim, quase ia me esquecendo, esse livro me lembrou muito um filme “Meu Último Desejo” onde Dylan, um adolescente de 16 anos, doente terminal, que ganha de um programa de televisão um último desejo. Para surpresa de todos, Dylan escolheu passar um fim de semana sozinho (ou seja né…) com a Top Model de seus sonhos Nikki (Sunny Madrey). O desejo é irreverente e provoca polêmica na mídia e na sua família. No final ele morre sorrindo, foi também um filme marcante na minha vida. 

O “último desejo” Hazel, foi conhecer o tal escritor do livro Uma Aflição Imperial, o que levou a Augustus ajudá-la com isso. Mas e quanto a vocês quais seriam seus últimos pedidos se não tivessem muito tempo? No próximo post muito sangue e luta com “Orgulho, Preconceito e Zumbis”.  Também disponível no blog De Repente Cresci :)
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2 comentários:

  1. Sua resenha ta maravilhosa! Muito, muito boa, só teve alguns spoilers, mas como eu já li não tem problema para mim! Hehe x)

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  2. Obrigada Esther! Tenho que me conter nos spoilers, a história é elaborada demais e dói deixar as coisas de fora, adorei esse livro!

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